E que grandes estórias
JOÃO EDUARDO DOS SANTOS MORAIS, "ESQUILO"
TCHIVINGUIRO + 1 "CAUSO"...HONRA AO MÉRITO DE UM COLEGA!
Não sei se caberá dentro desta página de "causos" mas nunca é demais prestar uma homenagem a um amigo e colega que,recentemente, na cidade do Recife,Pernambuco, Brasil, foi distinguido com um prémio que honra a todos nós cuja preparação para a vida passou pelos bancos do Tchivinguiro.
Muitas têm sido as distinções e homenagens atribuídas a colegas nossos, algumas amplamente divulgadas, outras nem tanto e que, por isso, se perdem no anonimato da modéstia e da memória.
O "causo" que vou contar, ou melhor a homenagem que pretendo fazer a este nosso colega e amigo de longa data, que em 1975, tal como a maioria de todos nós se viu obrigado a abandonar a cidade onde vivia com a sua família, esposa e duas adoráveis e pequeninas filhas, Malange, Angola, rumo a Nova Lisboa, onde abrigados no aeroporto daquela cidade durante o período de espera se integrou ao grupo de ajuda que colaborava no embarque das famílias que aguardavam a sua evacuação, com destino a Portugal.
Com este colega tive o prazer de conviver, primeiro em Luanda e mais tarde, por ironia do destino tornamo-nos colegas de trabalho na mesma empresa e em serviço percorremos milhares de quilómetros visitando e dando assistência aos agricultores desde o Lucala à Baixa do Cassange, no distrito do Cuanza Norte, sempre com o mesmo espírito de companheirismo e amizade que nos acompanha até hoje.
Nessas confusões e incertezas, após o 25 de Abril de 1974 nos perdemos um do outro até que, casualmente nos reencontrarmos em 1976, em Ribeirão Preto, Brasil e a partir daí sempre nos mantivemos em contacto, apesar das mudanças constantes de endereços e cidades a que a nossa profissão e as contingências da vida nos impunham.
Por várias circunstâncias, insucessos e desenganos (os cabelos brancos não são só oriundos da saudade e da idade mas, principalmente,dos desgostos e desenganos da vida, assim, mais ou menos reza um fado), o nosso amigo e colega teve a necessidade, por razões fundamentais de sobrevivência, de trocar a atividade de Eng. Técnico Agrário, profissão que havia escolhido ao ingressar no Tchivinguiro e abraçar aos quase 70 anos de idade, uma outra profissão, até então desconhecida para ele, a de Corretor e Avaliador de Imóveis.
Atualmente o nosso colega é um bem sucedido micro empresário no ramo e, com tanto afinco e dedicação se empenhou nessa sua nova profissão que, surpreendam-se, no passado dia 27 de Agosto, Dia Nacional do Corretor de Imóveis foi agraciado pela Direção do sindicato da atividade,o SINDIMÓVEIS/PE, CRECI, 7 REGIÃO E SECOVI, com o troféu COLIBRI, ao fim de uns quatro anos de atividade, com a distinção de CORRETOR DE IMÓVEIS REVELAÇÃO DE 2014.
De quem falo?
Do nosso colega e amigo JOÃO EDUARDO DOS SANTOS MORAIS, "ESQUILO" para os íntimos...não é à toa que eu digo que após o 25 de Abril de 1974, algo de bom sobrou para a maioria de nós, graças a muitos atributos, entre eles a competência, persistência, honestidade e conhecimento!
Parabéns,amigo, companheiro e colega!
Aquele abraço!
P.S. Outros colegas e amigos nossos mereceriam também um "causo" e um deles até, talvez um dia um livro, contando a sua história de vida, quem sabe talvez um dia, aconteça essa oportunidade!
EXCURSÃO DE ALUNOS DO TCHIVINGUIRO A PORTUGAL, FOI HÁ 50 ANOS!
Foi há 50 anos! A primeira (e talvez única) visita de estudo ao exterior de Angola de alunos da Escola de Regentes Agrícolas “Dr. Francisco Machado” no Tchivinguiro.
Estávamos em 1964 mas desde uns anos antes falava-se numa excursão para fora do território mas cuja concretização se adiava… Até que, nesse ano, para grande satisfação e surpresa nossa se tornou realidade.
O grupo foi formado não só por finalistas, pois alguns na ocasião já estariam impedidos por motivos pessoais vários como tropa, estágio, etc., mas completaram-no pré-finalistas (4º ano). Tomámos um avião Friendship da DTA no Lubango para Luanda onde pernoitámos. e demandámos Lisboa no dia imediato em avião a jato fretado pela TAP.
Tenho quase escrita uma extensa crónica, o que não cabe aqui neste local, do que foi essa inesquecível, para nós, visita a Portugal, ao pormenor, programa oficial, episódios pitorescos, diversão extra programa, etc., pelo q fica aqui apenas um relato menor.
Foi assim que eu e muitos deixámos pela primeira vez o continente africano e pisámos Portugal. Compunham a excursão como professor o Dr. Manuel Fernandes e sua esposa, e dez (se não erro) alunos: A. Pires Dias; António Russo; C. Serra Santos; Eduardo Baeta; Fernando Lima; J. Geraldes de Matos; Júlio Rodrigues; M. Branco de Castro; N. Costa Santos; Rodolfo Veiga. Era pois uma mini excursão. Em Portugal foram designados como acompanhantes dois professores locais.
Para o evento foi imprimida uma interessante brochura, que conservo ainda hoje.
Consta desse programa que a visita se iniciou em Lisboa no dia 25 de julho e terminou a 12 de agosto de 1964, durando pois 19 dias nos quais percorrermos Portugal a partir da grande Lisboa para o Baixo Alentejo, Algarve, Alto Alentejo, Ribatejo, Beira Litoral, Minho e grande Porto. Antes houve a apresentação de cumprimentos a dois governantes, CMLisboa, e a outra entidade. Naquelas regiões visitámos institutos, universidade, caves, adegas, silos, obras de rega, barragens, estações agronómica e agrárias, coudelaria, colonato, perímetros florestais, jardim botânico, parques, herdade, as (três) escolas de regentes agrícolas e as (três) práticas de agricultura nas quais fomos ficando alojados ao longo da excursão. Percorremos também locais turísticos, monumentos, templos, santuário de Fátima, complementando-se a excursão com um programa social oferecido de fados, almoços ou jantares especiais, feira popular, etc. Para além disso tivemos dias e noites livres em que por nossa conta nos divertimos nas cidades por onde passávamos.
O dia 12 de agosto consta como dia livre em Lisboa e partida para Angola após a meia noite. Mas tal não aconteceu! Pois foi concedido aos excursionistas um período suplementar de permanência em Portugal de cerca de semana e meia em que cada um o aproveitou como quis, tendo sido garantido alojamento numa residência universitária em Lisboa. Foi uma excursão memorável, deslumbrante.
E assim nesse já adiantado agosto de 1964 regressámos enriquecidos à nossa querida Angola novamente pela TAP até Luanda para depois voltarmos ao Lubango num voo da DTA. A memória da excursão seria depois durante muito tempo partilhada em conversas deliciosas com familiares, amigos e colegas.
A Escola de Regentes Agrícolas do Tchivinguiro, do arquiteto Vasco Regaleira, é uma instituição de referência no país (à qual se associam a Igreja do Tchivinguiro e a Missão, ambas de 1892). Embora tenha sido criada em 1938, com o nome de Escola Agro‐Pecuária da Huíla (inicialmente designada Escola Agro‐Pecuária Dr. Francisco Vieira Machado), a primeira pedra do edifício só é lançada em 1942, e apenas em 1957 passa a Escola de Regentes Agrícolas. Em junho de 1980 passa a ser denominada Complexo Escolar Agrário do Tchivinguiro e posteriormente, até à atualidade, Instituto de Ciências Agrárias e Veterinárias.
TCHIVINGUIRO + 1 "CAUSO'...A ORIGEM DA PALAVRA "CAPIANGO"!
A sequência de "causos" está-se tornando um enredo muito semelhante a uma tigela cheia de tremoços, quando se come um não se consegue parar mais até comer o ultimo e, se forem acompanhados com uma cervejinha estupidamente gelada então...
Pois é, então vamos substituir os tremoços e as cervejas pelos "causos" que os nossos colegas me vão enviando e lembrando, para que não fiquem mofando na memória de poucos e sejam ventilados pela curiosidade de muitos.
O de hoje foi-me sugerido pelo nosso colega José Azevedo "Pica-Pau", causado por um outro nosso colega José Vilela de Freitas "Tecto", infelizmente já falecido vítima da "exemplar descolonização" e da brutalidade humana!
O "Tecto" era meu contemporâneo e colega de turma, entramos juntos para o Tchivinguiro. Possuidor de uma inteligência fora do comum era considerado pelos professores como um dos alunos mais inteligentes e dedicados da época.
A sua alcunha "Tecto" ficou registrada pelo solene e tradicional baptismo ministrado por Sua Excelência o Reverendo e Primeiro Bispo do Tchivinguiro e Caholo "Dom Esgueira", também chamado de Rodolfo Romão Veiga.
Chamávamos o Vilela de "Tecto" devido a um problema que ele tinha na visão, que o obrigava a colocar a cabeça levemente inclinada para o lado e ligeiramente erguida, dando a impressão que estava a olhar para o alto, podendo assim ter uma visão melhorada de tudo o que o cercava ao redor e acima da sua cabeça e, por isso, ficou "Tecto".
Lembra o "Pica-Pau" que a palavra "capiango" que em português se traduz por roubar, surrupiar, tem origem Banto e que também se usa no Uruguai ("Causos" também são cultura!), embora o acto em si esteja institucionalizado por alguns politicos universais...
Mas voltando ao "Tecto" estava ele a "capiangar" maçãs reinetas naquele pomar que ficava separado por uma vala, para baixo daquela estrada de eucaliptos que marginava lateralmente o nosso campo de futebol, que não era padrão FIFA e cujo gramado inexistente foi substituído pela mais pura e original terra Tchivinguirense (nós prestigiávamos as raízes), quando percebeu um vulto azul caminhando furtivamente por entre os troncos dos eucaliptos, em direção ao pomar, só que esse vulto era do nosso querido e saudoso director Dr. Pablo, carinhosamente chamado de "Batuta", que via de regra costumava se proteger do frio com um jaleco de malha azul marinho, e que avançava na perspectiva de surpreender em flagrante actividade de "capiango" um "capiangador" confesso.
E o "Tecto", na sua ingenuidade segundo o "Pica-Pau" e na sua criatividade, segundo eu "Sete", sabendo que não tinha como nem para onde fugir, decidiu subir numa pequena árvore que vegetava perto do pomar e pendurar-se de cabeça para baixo e esperar a chegada do "Batuta" e do consequente sermão.
Perplexo com o tamanho da atitude insólita, o "Batuta" chegou mais perto e questionou o "Tecto": "Ó Vilela, o que estás aí a fazer pendurado de cabeça para baixo?" ao que o "Tecto", aí sim, chamando toda a sua ingenuidade respondeu: "Era para o Sr, Director não me reconhecer..."
Contam os observadores de plantão, que o "Batuta" ficou estático por segundos, depois deu meia volta abanando a cabeça e soltando sonoras e alegres gargalhadas entrou na "station" e lá foi dirigindo e rindo!
Meu amigo José Vilela de Freitas,"Tecto" para todos nós descansa em Paz onde quer estejas e recebe este "causo" como um tributo de admiração, amizade e homenagem dos teus colegas e amigos José Azevedo "Pica-Pau" e Antero "Sete"!
Aquele abraço.
TCHIVINGUIRO + 1 "CAUSO"...O ASSALTO FRUSTRADO!
Após este interregno, nada de grave com a minha saúde a não ser um surto de "preguicite aguda" já debelado com a vacina de um "causo" narrado pelo Sergio Cardoso "Gabela" e que segundo ele foi causado por um amigo e colega actualmente tirando leite de vaquinhas, lá para as bandas do Nordeste brasileiro, embora o "causo" tenha sido causado em outras bandas daqui distantes, lá prós pomares do Tchivinguiro.
Numa daquelas noites ociosas de sábado, em que nem sessão de cinema mambembe tinha, um grupo de colegas resolveu se divertir com aquela diversão tão conhecida e praticada por todos nós de arriscar um assalto aos pomares e uma berrida de pedradas e de gritos de "num rôba, minino! num rôba..." soltados pelos guardas muilas.
Organizado o grupo, traçada a estratégia que nem generais debruçados em planos de guerra para subtrair umas dezenas de pêras verdes, lá se abalaram para uma investida em "território inimigo" todos lembrados de que o silêncio era o sucesso da expedição.
Desceu o referido grupo no maior silêncio, cigarros apagados e com o máximo cuidado para não chutar as pedras do caminho (êna pá! Diz lá ó Rui Manuel Cuca, se isto não dava um fado?), quando um dos integrantes do grupo o "gigolô" das vaquinhas (o jargão não é meu, é o que se diz nestas bandas de quem ganha a vida extraindo leite das vacas), antevendo o desarranjo intestinal que a fruta verde lhe iria provocar resolveu, por antecedência, aliviar as suas cólicas e providenciar mais espaço no interior da sua cavidade estomacal, de cócoras, já em "território inimigo", debaixo de uma pereira, enquanto o resto do grupo unido o aguardava a uma distância conveniente para garantir a privacidade do evacuante e ficar longe de possíveis maus cheiros e ruídos desagradáveis...
Parecia que tudo estava normal e o sucesso da "operação" estar garantido quando, de repente, da escuridão da noite brotou um tremendo berro que nem o Adamastor assustando os tripulantes das nossas heroicas naus de outrora, que fez com que os grilos do campo deixassem de grilar, os sapos deixassem de coaxar e o grupo "pernas-pra-que-te-quero" que nem viram a figura do nosso colega atrapalhado, saindo das trevas tropeçando nas calças arriadas, enquanto ia avisando: "não fujam, não fujam, foi uma pêra que caiu na minha cabeça, enquanto estava cagando!",,,só que os guardas também despertaram e não estavam cagando sairam naquela tradicional berrida de pedradas e gritos: "num rôba, minino! num rôba..."
Aquele abraço.
TCHIVINGUIRO + 1 "CAUSO"...AINDA NÓS E O 25 DE ABRIL...
Dos muitos comentários que recebi sobre este "causo", a maioria apoiando e muito poucos desagradados com a maneira a que me referi à descolonização portuguesa, recebi do nosso colega José Azevedo, "Pica Pau" o seguinte e:mail que vou transcrever, mesmo sem a sua autorização,por o achar muito interessante e digno de ser divulgado!
"Olá, meu velho Amigo:
Falaste no 25 de Abril e na tal "descolonização sem honra e vergonhosa" e achei curiosa a coincidência de sermos talvez os únicos "retornados" que não chamam à dita "revolução", a "revolução dos cacas", em vez de "revolução dos cravos". Já nem te deves lembrar que nesse mesmo dia (25 Abril 74) nasceu o meu filho Pancho, o que basta para me contentar. Eu estava na zona de Cacuso e suspeitei logo que aquilo cheirava a esturro. Mas, passados 40 anos, os cravos (que afinal nos cravaram...) estão cada vez mais secos e desbotados, talvez por falta de rega e também por contra-informação dos que foram mandados fora (como nós), ou então pela indiferença/ignorância das novas gerações, que se estão borrifando para essa história da carochinha, mal contada pelos caricatos capitães de Abril...
Mas adiante...
Muito mais significantes para mim, são os teus "causos" que contam as vivências de "Charruas" que se negaram e que ainda se negam a morrer sufocados por cravos de burro. Os "causos" e as tuas reflexões, são a melhor narrativa de uma epopeia que vai passando de mail em mail, protagonizada por outros "Capitães da Areia", como o Gâmbias, o Esquilo; o Procópio, o Sérgio, o Pau...
E para mim é tão simples quanto isto:
Os "Charruas", regentes do principado do Tchivinguiro, eram filhos de TCHIVIN (vento) e de GUIRO (zanga). De TCHIVIN herdaram a capacidade de adaptação, de construção e de renascer das cinzas; e de GUIRO herdaram o esquecimento.
Mas pelas leis de Mendel, o caracter esquecimento não era dominante e não tinha para alguns "Charruas" a menor importância. Até que a descolonização os separou de Angola, onde até tinham feito coisas assombrosas. Tinham conquistado prestígio à custa de mérito, foram membros de excelentes equipas técnicas, médicos, empresários agrícolas, comerciantes, directores, diplomatas, viajantes, agrónomos ou veterinários, até houve um regente agrícola que foi bispo em Benguela!
A descolonização acabou com o alfobre do Tchivinguiro e pulverizou os "Charruas", que partiram destroçados à procura da Arca Perdida. Mas lançados de novo a caminho, depois de terem passado da luz para a obscuridade, vaguearam pelo mundo em busca de uma nova oportunidade,
andaram por cidades, florestas e desertos,
experimentaram profissões diversas e incríveis,
mudaram de hemisfério e de continente,
descobriram novos mundos e novos amigos,
abriram novas portas e janelas,
acharam novas "terras de promissão".
E tornaram a renascer... até serem esquecidos.
UM ABRAÇÃO"
Obrigado, meu amigo e colega José Azevedo, em meu nome e de todos aqueles que connosco partilham este espaço!
Aquele abraço.
TCHIVINGUIRO + 1 "CAUSO"...O MELÕES E O ALHO!
Recebi há alguns dias e:mail do nosso colega José Azevedo "Pica Pau", preocupado com a ausência dos nossos "causos" e como bom amigo, pensando que eu não estava "causando" por falta de "causos", pediu que eu contasse um passado na sua turma, com aquele que foi nosso Professor, o saudoso Dr. Manuel Fernandes "Melões" e do qual guardo saudades, pelo seu espírito jocoso e crítico, no trato dos "causos" "causados" no nosso quotidiano, além de ser um Professor dotado de uma capacidade de comunicação aliada a gestos que muito facilitavam a nossa compreensão sobre as matérias que ele explicava.
Sobre a minha relação com esse Professor contarei no próximo "causo", para que o atual não perca o brilho, perante o brilho do "causo" contado pelo "Pica Pau".
Segundo o "Pica Pau" e <<a propósito do Melões, vou contar-te um "causo" passado na minha turma:
Estava o Melões entretido a contar aquelas estórias da sua vida e trajava, como habitualmente, uma balalaica de cotim e umas calças também de cotim cinzento claro, que por acaso tinham uma nódoa vermelha (tinta da china?) numa das pernas. Contava-nos histórias da sua estadia em Maquela do Zombo, como tenente, os seus problemas com o hemorroidal, de uma fazenda de tabaco que teve à sociedade na região de Quilengues, de umas minas de cobre que demarcara... Mas, infelizmente, nada tinha dado certo.
A certa altura ouviu-se um burburinho na sala, porque estava a passar de carteira em carteira uma mensagem enviada pelo João José Valério Alho. O papelito, continha a seguinte quadra, de autoria do Alho:
No cobre e no tabaco
O homem já teve azar
Também tem hemorróidas no "mataco"
Vê-se à rasca para cagar.>>
E assim foi o "causo" das actividades resumidas do nosso saudoso Professor, faltando apenas acrescentar aquele outro "causo" acontecido naquela fazenda serra-abaixo, também de sua propriedade, em que "uma das suas melhores vaquinhas leiteiras engoliu um pedaço de arame que por descuido foi junto com o feno e que com o passar do tempo a vaquinha foi ficando fraquinha, fraquinha, recusando-se a comer". Preocupado e não sei como, o "Melões" descobriu que ela, a vaquinha, estava com um problema no esôfago. Descoberto o problema, mãos à obra ou melhor, mãos à operação para extração do arame, que foi muito bem sucedida mas, por espanto e isso é que ele "Melões" queria contar, o arame em vez de seguir o curso normal no aparelho digestivo, fixou-se no esófago, formando um anel!
Explicações? Eu não as sei dar e aconselho, meus amigos e colegas a não as ir pedir ao nosso saudoso Professor porque, senão, será um de vocês que nos deixará em breve...
Aquele abraço!
TCHIVINGUIRO + 1 "CAUSO"..."EMBRULHO DESEMBRULHADO!'...ESCLARECIMENTOS HISTÓRICOS SOBRE A ORIGEM DO MANECO DE CAPANGOMBE.
Ainda quentinhas, como o pãozinho de queijo, lá de Minas, que oFrancisco José Gonçalves Chegão nos oferece nestas páginas, assim são, também, as noticias que o José Azevedo "Pica-pau" nos serve e que com a devida vénia eu transcrevo, para informação de todos nós e, principalmente para os nossos colegas António Leite Saraiva e Lino Camacho que motivaram e comentaram "causos" passados.
Alguma vez vocês imaginaram ou pensaram em investigar os ancestrais do Maneco de Capangombe? Pois bem, eu também não, mas o nosso colega José Azevedo Pica-pau", sim e, por isso, aqui vão os resultados da pesquisa feita pelo Azevedo, nas suas próprias palavras: <<Quanto ao "Maneco de Capangombe", deves ter visto na NET um pedido de informações feito por um senhor que diz ser seu neto, bem como um trabalho essencialmente fotográfico de um cubano que passou por Capangombe em 2006 (salvo o erro)...Ora, ao que consegui apurar, o Maneco que conhecemos em Capangombe e morreu no Lubango, em casa de sua filha Laura, no ano de 1949. Portanto, nenhum de nós conheceu o Maneco mais velho,mas apenas o seu filho, que na inauguração da Escola Dr. Francisco Machado, também já era velhote. Ou então nós é que eramos demasiado meninos.Acontece que na listagem de colonos luso-pernambucanos que chegaram a Mossamedes (na altura escrevia-se assim mesmo, com 2 esses) em 1849/1850, não consta o nome Manuel Fernandes,pelo que a sua ascendência brasileira (note-se que os colonos provenientes de Pernambuco eram portugueses mandados de fora) dificilmente poderá ser comprovada. Todavia, na lista de cabeças de casal procedentes da ilha da Madeira e que chegaram ao Lubango em Janeiro de 1885, há de facto um Manuel Fernandes mas também não poderemos dar por adquirido tratar-se do "Velho Maneco de Capamgombe".E assim ficamos com uma bela desordem "Serra-Abaixo", a pedir mais pesquisa histórica, coisa que nos esquecemos de fazer enquanto andamos no Tchivinguiro. Deduzo que Manuel Fernandes (o mais velho, que morreu em 1949) seria um homem de invulgar cultura geral, pois deu aos filhos uma base sólida de conhecimentos, como é verificável pela facilidade de comunicação do seu filho "Maneco de Capangombe", que nós conhecemos, como pela excepcional educação que proporcionou a sua filha Laura (mais conhecida por Laura Cambuta), que tocava piano, falava francês e casou com o Padre Martins...>>
Este foi o resumo da pesquisa que o nosso colega Azevedo realizou para decifrar o enigma da ascendência, que se supunha brasileira, do nosso lendário conhecido de alguns e amigo do António Leite Saraiva "Gãmbias" e do Lino Camacho, que segundo o próprio e ainda o "Pica-pau" se conheceram bem << pois eram ambos (Maneco e Gâmbias) aficionados de cavalos e burros>>!
Agora sim, foi dado um passo quanto às origens do Maneco e, julgo, que logo logo, teremos mais novidades.
Aquele abraço!
Anexo de fotografias dos comentários
TCHIVINGUIRO + 1 ... "DESEMBRULHO DE CAUSOS"... E AS SUAS RESSONÂNCIAS!
Quando comecei a escrever estes nossos "causos" movido pela esperança de resgatar o convívio de amigos e colegas que viveram o Tchivinguiro, nunca pensei que amigos que nunca viveram essa experiência e emoção, tais como a Deolinda Santos e a Roseane Rosinha Gonçalves, por exemplo, se interessassem tanto pelos "causos" ao ponto de me chegarem a indagar o que era o Tchivinguiro.! Para elas era uma coisa confusa, meia mistica e maçônica que não conseguiam decifrar o que é ou era o Tchivinguiro e não compreendiam esse envolvimento emocional e camarada que ultrapassou o tempo, fronteiras e países e que eu mesmo, propositalmente, não esclareci completamente, para que elas continuem mantendo nas suas imaginações aquele clima nebuloso e misterioso das "Brumas de Avalon"!
Agora, após a publicação de mais de uma dezena de "causos" vejo-me recompensado pelo esforço de memória, por ter cutucado amigos e colegas com quem não me encontrava há anos, grato por ter despertado a sua curiosidade leiga, sobre algo que era totalmente desconhecido e incompreendido por elas, e que vai continuar sendo,o que me leva a subentender que muitas outras pessoas têm o mesmo interesse em compreender o que nós, família Tchivinguirense somos e o que representamos nos países onde desenvolvemos a nossa capacidade profissional e social!
Em reforço às ressonâncias desses "causos", recebi e:mail do nosso colega, amigo e companheiro de muitas décadas, José Azevedo "Pica-Pau", que devidamente autorizado por ele, reproduzo parcialmente:
" Meu velho Amigo: Para mim, tu estás como a "Irene" entrando no Céu, nas palavras de Manuel Bandeira. Não precisas de pedir licença, podes copiar, reformular, integrar nos teus saborosos "causos" as dicas que por vezes te envio, as quais não passam de simples apêndices ao que por ti foi redescoberto". E, mais adiante ele continua: "Olha: telefonei hoje ao dito protagonista do "foi tu sim" (fez 81 anos em Fevereiro) e podes acrescentar mais um pormenor ao que disse na "mukanda" anterior: o "causo" não foi julgado na Humpata, mas sim no Lubango, pelo juiz Bruto da Costa. E foi nessa acareação que foi proferida a célebre frase: "foi tu, foi tu mesmo", que depois ficou para a história."
E tenho mais revelações a fazer, graças ao "Pica-Pau", que brevemente será Doutor, agora sobre o "Maneco de Capangombe", baseadas em pesquisas históricas que brevemente serão reveladas.
Em homenagem e agradecimento ao nosso colega José Azevedo "Pica-pau", anexo uma foto tirada no almoço de 2012, no Cartaxo, onde estão o Azevedo, sua esposa, grande e compreensiva amiga, Regina e o Matos Pereira, para quem também envio aquele abraço!
TCHIVINGUIRO + 1 "CAUSO"..."EL CARAPAU"...OU D. FERNANDO CABÊDO MACHADO!
Cá volto eu para exaltar a memória e a figura de um colega que graças ao seu carisma e inteligência marcaram época, não só no Tchivinguiro, mas por todos os lugares por onde transitou.
Podem acreditar amigos e colegas, não é, digamos "chacota", mas sim uma homenagem a uma figura carismática de quem eu me considerei e considero amigo e, por ele também fui considerado!
Como já narrei no "causo" anterior, a expectativa da chegada do "Carapau" ao Tchivinguiro era grande e se por alguns veteranos era ansiosa e alegremente aguardada, para nós semi-bichos mais aquela arraia miuda dos bichos e pelos outros cujo nome da classe já diz tudo, neutros, mantinha-se aquele clima de expectativa receosa da chegada do mito que se transformara em lenda!
E eis que chegou, "Carapau" de nome de baptismo Fernando Gustavo Garcia Cabêdo de Machado, membro da nobreza portuguesa, afirmado por ele mas nunca confirmado por nós outros plebeus.
Logo de chegada já foi "causando", confiscados os copos de vinho que faziam parte do cardápio diário do almoço, dos bichos semi-bichos e neutros das mesas vizinhas à sua, mandando avisar, imbuido na autoridade auferida por 8 matrículas distribuidas pelas quatro Escolas de Regentes Agrícolas, que depois do almoço toda a bicharada, incluindo os neutros, deveriam se apresentar para a "forma" na frente da Escola!
E nós, cada vez mais incrédulos achando que era muita pretensão de um homenzinho, franzino, de andar meio torto, talvez porque uma das botas tinha um solado e salto mais grosso e alto, para compensar o estrago feito por um touro, um queixo recuado e o lábio inferior escondido sob o lábio superior ( até nisso a natureza o privilegiou facultando-lhe a anatomia para achar o encaixe perfeito dos copos), as longas e largas patilhas enfeitando as duas metades da sua face, a marca da cintura, que nós não sabíamos se começava no peito ou acabava no queixo, realçada por aquelas calças tradicionais do Ribatejo (acho eu), de cintura subida!
Se à primeira vista a sua figura não poderia ser comparada à de um galã de cinema, já o mesmo não poderíamos dizer do seu carisma, inteligência, coragem física e mental e sobretudo a sua enorme e natural capacidade para criar "causos", dos quais saí quase sempre em braços mas não de boca fechada!
Este era o "Carapau", já o Cabêdo Machado tem uma outra estória quando, por mim apresentado ao saudoso jornalista e Chefe da Redação do jornal "a Provincia de Angola", Jaime de Figueiredo, se revelou um grande articulista e conhecedor da causa agrícola angolana, com a publicação de interessantes artigos semanais e mais tarde com publicações mais específicas na "Gazeta Agrícola".
Em todos os lugares onde chegava, D. Cabêdo Machado era recebido efusivamente ou com certas reservas, dependendo da condição social de cada lugar mas, uma coisa era certa, carisma, inteligência, galhardia e bravura, não poderia deixar de se lhe reconhecer!
Se os leitores estavam esperando por um ou mais daqueles "causos", um deles já lembrado nesta página pelo nosso colega António Leite Saraiva, que me desculpem pela decepção, mas hoje foi a tarde em que me apeteceu abraçar a "memória" de um colega, companheiro e, sobretudo, amigo D. FERNANDO CABÊDO MACHADO!
Paz à sua alma! Para vocês que me acompanham, aquele abraço!